Hipocrisia

Nunca percebi... por que é que as pessoas hão-de mostrar ser aquilo que não são. Por que é que alguém se vende como um produto que, verdadeiramente, não é. Por que é que desperdiçam tanto labor em construir uma imagem de si, que não corresponde à sua verdadeira natureza e que, talvez corresponda, mais aquilo que gostariam de ser, se não fossem assim como são, como se não houvesse uma certa predestinação, um certo fado idiossincrático.
Como se pode uma pessoa cumprir, se se afasta de si, para construir uma fachada de si? Uma fachada para os outros admirarem, mas que não corresponde ao edifício, que na realidade, é.
Por que é que se cria uma imagem de “boa pessoa”, “muito divertida”, “que gosta de ajudar”, que não corresponde à realidade, que não se cumpre, portanto. Porquê enganar as pessoas? Porquê tanta preocupação com o status social? E porquê tanto zelo nessa construção? Talvez porque haja uma consciência dos seus defeitos, dos seus erros.
Mas estúpida sociedade é, aquela que, diz aos seus membros que só podem ser bonzinhos e divertidos. Sou “pessoa assim-assim”, “muito melancólica” e “gosto de ajudar quando não dá trabalho”, que tal? Mais honesto?
E esta mania de auto-definição? Deixem aos outros esse trabalho de nos definirem e cumpram-se apenas. Mas sem a hipocrisia e o cinismo das construções de si-mesmos para os outros, que raramente encaixam por muito tempo.
Assim, menos pessoas se magoam e mais pessoas estarão perto de se cumprirem e de serem, efectivamente.